O
jovem rapaz bem vestido, com profundas rugas formadas entre suas sobrancelhas,
estava batendo a ponta de seus dedos contra a mesa em uma forma repetitiva e
descontente.
A
reunião de arcanjos que começou há pouco tempo continuava a seguir uma linha
paralela perfeitamente, sem prosseguir nem um pouco. Cansado de sentir que não
havia um fim próximo, ele se levantou de seu assento com um som de metal sendo
tocado.
– O que houve, arcanjo Kaito? –
Perguntou casualmente um homem mais velho, que estava sentado em uma cadeira
notavelmente real, ao outro lado da mesa. O homem chamado Kaito respondeu sem
esconder sua irritação.
–
Eu estou farto desta discussão que não prosseguiu desde cedo. Eu tenho outras
tarefas a fazer, então não se preocupem comigo e continuem.
Após
se levantar de seu assento e dizer isso, um jovem com cabelos longos no assento
adjacente tentou chamá-lo.
–
Vamos, a reunião acabou de começar, Lorde Kaito. Não poderia ficar conosco mais
um pouco? Ainda há tempo antes do chá das três.
Com
uma expressão benevolente e um sorriso gentil, o homem que repreendeu Kaito,
chamado Gaku, olhou para o relógio gigante cravado no teto do templo. Eram duas
horas. Ainda havia mais uma hora até sua importante “hora do chá”.
Sem
combinar com reuniões ordenadas, e após ser repreendido pelo preguiçoso Gaku,
Kaito suspirou e se sentou mais uma vez em seu assento.
O
tópico da discussão de hoje era a situação da prolongada guerra no Paraíso.
A
Grande Guerra do Paraíso –
Agora,
já se passaram cerca de cinco mil anos. Quando o conflito entre anjos e
demônios se intensificou, houve uma batalha onde aproximadamente metade do
Paraíso foi perdida. Os anjos que protegiam o Paraíso foram reduzidos a pouco
mais da metade, e a metade do paraíso sagrado que foi perdido caiu sobre a
terra. Os anjos sobreviventes desesperadamente tentaram cultivar a fonte de
toda a vida, a “Árvore da Vida”, custando a energia da circulação das almas
perdidas. Desde então, o principal campo de batalha entre anjos e demônios foi
movido para o mundo humano, e continua até hoje. A fé em Deus dos humanos serve
como o poder que controla todo o “mundo”, consistindo no Paraíso e no mundo
humano. Não seria exagero dizer que este poder, conhecido como “poder divino”,
é o que forma o mundo.
Por
outro lado, o ódio do mundo – sentimentos negativos criados de corações vazios
e obsoletos, se tornam a fonte do “poder das trevas” para demônios, e amplifica
o poder do Demônio, que comanda todos os outros.
O
Paraíso e o Inferno almejam expandir suas forças controlando tais emoções e
ações dos humanos, tudo para se prepararem para o próximo confronto direto,
que, como a anterior Grande Guerra, há de acontecer um dia.
Basicamente
falando, são confiados três deveres aos anjos.
Guiando
a circulação da vida daqueles que vivem no mundo humano, em várias formas, está
Rafael – os anjos da proteção divina.
Cuidando
da “Árvore da Vida”, que é a fonte de toda a vida, está Gabriel – os anjos da
circulação.
E,
finalmente, lutando contra os demônios que se opõem ao Paraíso, Miguel – o
exército.
Dentre
estes três deveres, um é dado como missão. Para eles, essa “missão” é uma
obrigação, mas também é sua “vida”.
O
arcanjo Kaito também teve um desempenho militar glorioso na batalha contra
demônios e, pelo bem deste destino, continuou a lutar como um dos anjos de
Miguel.
Todos
no sistema hierárquico governavam o Paraíso sob leis rígidas, e viviam para
cumprir a missão dada a eles. Kaito não era uma exceção. Por isso ele estava
relutantemente participando desta reunião de arcanjos completamente entediante
desde cedo até a hora que acabar, por causa de seu trabalho como um arcanjo no
comando da equipe de ataque. Sem esconder sua preguiça desta discussão sem fim,
Kaito olhou para a pacífica luz do sol pelo lado de fora da janela. O motivo
que ele usou mais cedo para tentar escapar da reunião não era mentira. Após a reunião,
ele tinha marcado de encontrar sua parceira que finalmente retornou do mundo
humano. Enquanto espera por ele, ela provavelmente estava tirando um cochilo da
tarde confortável e alegremente em algum lugar.
–
De qualquer forma, não há enganos sobre a informação que eu recebi. O que ameaça
a fé em nós e está espalhando as trevas pouco a pouco sobre os humanos... é a
fé em demônios originada na região de Velcant.
Ele
ouviu o que estavam falando ao seu lado. Fé em demônios era algo que estava
presente todas as horas do dia e noite sobre todo o mundo humano, mas nunca foi
lidado diretamente com isso até agora.
–
Velcant, é? Presumo que isso se trate de precisarem que eu vá investigar
diretamente.
A
área de Velcant era uma terra que a Sétima Unidade, liderada por Kaito, tinha
sob sua vigilância direta.
Mesmo
no mundo humano, era uma civilização notavelmente glamorosa e avançada, e
também era uma região onde os nobres e comandantes estavam constantemente em uma
briga por poder.
–
Mas o encontro desta vez parece que ser um plano em grande escala para eles.
Seria melhor se nós tomássemos todas as medidas de segurança e criássemos uma
estratégia detalhada...
–
Interferência é inútil. Velcant está sob minha jurisdição.
Interrompendo
o anjo que tentou discordar, Kaito se levantou completamente de seu assento
desta vez.
Discursos
pretensiosos não tinham sentido. Tudo o que importava era apresentar os “resultados”
como ele sempre fazia.
Com
habilidade superior de combate e liderança carismática, Kaito guiou a unidade armada
mais forte, conhecida como A Sétima Lança Sagrada dos Anjos. Na verdade, a
Sétima Unidade que Kaito guiava, conhecida tanto por seu talento quanto por seu
sucesso, consistia apenas dos mais fortes e orgulhosos da elite do Exército
Sagrado.
–
Então está decidido, arcanjo Kaito. Lhe será dada a completa responsabilidade
de investigar a fé em demônios na região de Velcant. Pessoal, alguma objeção
sobre isso? Contudo, não façam o impossível.
Com
sorrisos gentis, os arcanjos mais velhos concluíram a discussão.
O
sistema hierárquico dos anjos era rígido. Anjos de classe baixa devem obedecer
aos de classe mais alta que eles. Ou melhor, o instinto de obedecer estava
cravado em seus corpos. A excelência do poder divino do Paraíso era um guia
absoluto para todos.
O
anjo que estava raivoso por Kaito receber os créditos apertou os punhos em frustração,
e o encarou enquanto falava.
–
Arcanjo Kaito, permita-me dar um conselho.
Kaito,
que foi rápido em deixar seu assento, parou de andar e olhou para trás na
direção da voz.
–
O que seria, Luka?
–
Você está apenas embarcando no seu sucesso agora, esta batalha não pode ser
vencida apenas com a força do poder divino. É melhor você ter cuidado para não
ser enganado por humanos inferiores.
A
capitã da Sexta Unidade, chamada Luka, que estava encarregada de proteger a
região de Valul, vizinha de Velcant, deixou a sala com seu longo cabelo róseo ondulando
atrás dela. Luka via Kaito como seu rival em todos os sentidos. Ele geralmente
recebia os créditos pelas conquistas dela, então ela usava cada oportunidade
que tivesse para provocá-lo. Sendo da mesma classe de arcanjo, eles
provavelmente nasceram ao mesmo tempo também. Luka era uma extremista, um anjo
afiliado à facção Ira. Eles tinham um pensamento coletivo de presumir que os
humanos são formas de vida inferiores, feitos apenas para imitar os anjos, e os
anjos “cuidavam” dos humanos no mundo abaixo. Era um pensamento que se expandiu
desde a Grande Guerra, com o objetivo de reforçar a liderança no Paraíso e sua
lealdade a Deus.
Kaito
também era da facção Ira, e sendo assim, menosprezava os humanos, mas
provavelmente não tanto quanto ela. Conforme os dias passavam, os extremistas e
conservadores discutiam assim durante cada conferência importante. Neste tipo
de Estado, se o exército do demônio invadisse, as coisas ficariam bem no final?
Isso era com o que todos os arcanjos secretamente se preocupavam.
Sentindo
uma leve irritação, Kaito deixou a sala de conferências.
+
+ + + +
Voando
para o leste da Torre de Conferências por cerca de trinta minutos, o Jardim
Griselle surgia aos olhos.
Havia
vários tipos de vegetação crescendo, e a água da grande fonte no centro fluía
para todos os cantos do jardim. Dava a sensação de ser abraçado pelo calmo e
animado meio da tarde. No galho de uma macieira crescendo ao lado da fonte,
estava Rin. Ela estava tirando um cochilo da tarde, o qual ela adorava.
–
Se você dormir em um lugar assim, você irá cair.
Ouvindo
uma voz sobre ela, Rin se levantou, assustada.
–
Uwah!
Sem
conseguir abrir suas asas a tempo, ela parecia estar prestes a cair do galho,
mas se segurou com seus braços antes que isso acontecesse.
–
Você está bem?
–
K-Kaito! Obrigada, você me salvou!
–
Você... Seu jeito de falar continua o mesmo de sempre.
Com
olhos sonolentas e um sorriso, Rin usou suas asas para se sentar de novo no
galho.
–
Hã? Mas o Kaito é o Kaito, não é?
–
Todos os outros anjos de nível mais baixo me chamam de arcanjo Kaito... a única
que não me chama assim é você.
–
Hã? Mas eu fui ensinada a me referir ao meu parceiro com profunda afeição e me
livrar de formalidades.
–
...
Normalmente,
anjos trabalham em pares. São designados “parceiros” que são de níveis
diferentes entre si. Os anjos de níveis mais altos agem como mentores para os
de níveis mais baixos, enquanto estes respeitam os de níveis mais altos; isto
era uma ordem que deve ser seguida. Desta forma, quando as regras da sociedade
hierárquica do Paraíso são aplicadas, a base de um relacionamento de confiança
inabalável entre anjos é formada... Isso é o que ensinam a todos os anjos,
mas...
Essa
garota animada e inocente, Rin, tinha pouco interesse nas leis do Paraíso. Sua
personalidade não mudou muito desde quando ela nasceu, mas até mesmo hoje, é
raro haver um anjo tão indiferente e livre assim.
Kaito
repentinamente se lembrou do amigo que uma vez dividiu seu conhecimento com Rin
como sua parceira – sempre um jovem animado e maleável com olhos da cor de
jade, e subconscientemente sorriu.
–
Então, como foi o encontro de arcanjos?
Rin
pegou duas maçãs maduras e suculentas de um galho da árvore, e perguntou isso
enquanto comia as duas de uma vez.
–
O mesmo de sempre. Uma perda de tempo.
Kaito
respondeu enquanto mordia sua própria maçã, que Rin havia dado a ele.
Sem
ser muito doces, era a perfeita colheita. Após morder outro grande pedaço, Rin
engoliu fazendo um som alto.
–
Ei, ei, o mundo humano foi muito divertido!
Rin
foi ao mundo humano por duas semanas para seu treinamento como um anjo. E com
isso, ela foi promovida de anjo em treinamento para anjo júnior, e voltou após
concluir o seu treinamento.
–
Havia muita comida deliciosa no mundo humano! E roupas estranhas que eu nunca
vi antes! E também...
–
Entendo... A partir de hoje, você é um anjo júnior, não é?
–
Sim! Agora eu sou um “anjo” totalmente desenvolvido!
–
Um anjo totalmente desenvolvido não precisaria dizer isso.
–
Ah! Kaito, você é cruel. E eu ainda te dei uma maçã.
–
Por que eu... De qualquer forma, você apenas pegou esta maçã sem permissão deste
galho.
–
Ah. Tudo bem, certo, eu já entendi. Francamente!
Cortando
as palavras de Kaito, Rin fechou o rosto e virou de costas. “Nesta situação,
não deveria ser eu a me sentir ofendido?” Foi o que Kaito pensou.
–
Ahem. Enfim... Digo, parabéns por sua promoção.
–
!
Quando
Rin apressadamente se virou, Kaito – que sempre fazia expressões fastidiosas –
estava sorrindo um pouco, como se estivesse embaraçado.
–
Obrigada, Kaito! A partir de hoje, eu darei toda a minha energia!
Com
um sorriso de orelha a orelha, a garota que estava sorrindo como uma criança se
esqueceu de seu humor anterior e começou a se preparar para o trabalho com
gosto sobre o galho.
Sempre
que ele estava com Rin, coisas impossíveis aconteciam. Coisas como Kaito
sorrindo, algo que os outros anjos provavelmente nunca o viram fazer. Sendo tão
sério, ele era calmo e concentrado sobre todos os assuntos, e não demonstrava
interesse em interações com os outros anjos. Para uma pessoa tão fria, essa
garota que se tornou sua parceira há cerca de mil anos atrás tinha uma grande
influência.
Como
seu superior, ele não tinha dúvidas sobre ela, e eles se agiam como iguais.
Para Kaito, que sempre se distanciou dos outros anjos e vivia fielmente apenas pelo
bem de sua missão, Rin era uma existência que lhe trazia paz e tranquilidade.
–
Não fique com tanta energia a ponto de cair da árvore de novo. Eu nunca vi nenhum outro anjo cair de uma, visto que temos
asas.
Assim
que ele disse isso, ele levemente abriu suas asas e flutuou no ar.
Primeiro,
eles iriam celebrar no chá das três a promoção de sua subordinada, que o seguia
logo atrás bem abaixo enquanto murmurava reclamações.
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