sábado, 19 de janeiro de 2019

Himitsu ~Kuro no Chikai~ [Capítulo 1, Parte 1 - A maçã]

            O Templo Gran Dios, durante a Távola Redonda. O lugar sagrado de profecias, mais próximo de Deus.
O jovem rapaz bem vestido, com profundas rugas formadas entre suas sobrancelhas, estava batendo a ponta de seus dedos contra a mesa em uma forma repetitiva e descontente.
A reunião de arcanjos que começou há pouco tempo continuava a seguir uma linha paralela perfeitamente, sem prosseguir nem um pouco. Cansado de sentir que não havia um fim próximo, ele se levantou de seu assento com um som de metal sendo tocado.
O que houve, arcanjo Kaito? – Perguntou casualmente um homem mais velho, que estava sentado em uma cadeira notavelmente real, ao outro lado da mesa. O homem chamado Kaito respondeu sem esconder sua irritação.
– Eu estou farto desta discussão que não prosseguiu desde cedo. Eu tenho outras tarefas a fazer, então não se preocupem comigo e continuem.
Após se levantar de seu assento e dizer isso, um jovem com cabelos longos no assento adjacente tentou chamá-lo.
– Vamos, a reunião acabou de começar, Lorde Kaito. Não poderia ficar conosco mais um pouco? Ainda há tempo antes do chá das três.
Com uma expressão benevolente e um sorriso gentil, o homem que repreendeu Kaito, chamado Gaku, olhou para o relógio gigante cravado no teto do templo. Eram duas horas. Ainda havia mais uma hora até sua importante “hora do chá”.
Sem combinar com reuniões ordenadas, e após ser repreendido pelo preguiçoso Gaku, Kaito suspirou e se sentou mais uma vez em seu assento.
O tópico da discussão de hoje era a situação da prolongada guerra no Paraíso.
A Grande Guerra do Paraíso –
Agora, já se passaram cerca de cinco mil anos. Quando o conflito entre anjos e demônios se intensificou, houve uma batalha onde aproximadamente metade do Paraíso foi perdida. Os anjos que protegiam o Paraíso foram reduzidos a pouco mais da metade, e a metade do paraíso sagrado que foi perdido caiu sobre a terra. Os anjos sobreviventes desesperadamente tentaram cultivar a fonte de toda a vida, a “Árvore da Vida”, custando a energia da circulação das almas perdidas. Desde então, o principal campo de batalha entre anjos e demônios foi movido para o mundo humano, e continua até hoje. A fé em Deus dos humanos serve como o poder que controla todo o “mundo”, consistindo no Paraíso e no mundo humano. Não seria exagero dizer que este poder, conhecido como “poder divino”, é o que forma o mundo.
Por outro lado, o ódio do mundo – sentimentos negativos criados de corações vazios e obsoletos, se tornam a fonte do “poder das trevas” para demônios, e amplifica o poder do Demônio, que comanda todos os outros.
O Paraíso e o Inferno almejam expandir suas forças controlando tais emoções e ações dos humanos, tudo para se prepararem para o próximo confronto direto, que, como a anterior Grande Guerra, há de acontecer um dia.
Basicamente falando, são confiados três deveres aos anjos.
Guiando a circulação da vida daqueles que vivem no mundo humano, em várias formas, está Rafael – os anjos da proteção divina.
Cuidando da “Árvore da Vida”, que é a fonte de toda a vida, está Gabriel – os anjos da circulação.
E, finalmente, lutando contra os demônios que se opõem ao Paraíso, Miguel – o exército.
Dentre estes três deveres, um é dado como missão. Para eles, essa “missão” é uma obrigação, mas também é sua “vida”.
O arcanjo Kaito também teve um desempenho militar glorioso na batalha contra demônios e, pelo bem deste destino, continuou a lutar como um dos anjos de Miguel.
Todos no sistema hierárquico governavam o Paraíso sob leis rígidas, e viviam para cumprir a missão dada a eles. Kaito não era uma exceção. Por isso ele estava relutantemente participando desta reunião de arcanjos completamente entediante desde cedo até a hora que acabar, por causa de seu trabalho como um arcanjo no comando da equipe de ataque. Sem esconder sua preguiça desta discussão sem fim, Kaito olhou para a pacífica luz do sol pelo lado de fora da janela. O motivo que ele usou mais cedo para tentar escapar da reunião não era mentira. Após a reunião, ele tinha marcado de encontrar sua parceira que finalmente retornou do mundo humano. Enquanto espera por ele, ela provavelmente estava tirando um cochilo da tarde confortável e alegremente em algum lugar.
– De qualquer forma, não há enganos sobre a informação que eu recebi. O que ameaça a fé em nós e está espalhando as trevas pouco a pouco sobre os humanos... é a fé em demônios originada na região de Velcant.
Ele ouviu o que estavam falando ao seu lado. Fé em demônios era algo que estava presente todas as horas do dia e noite sobre todo o mundo humano, mas nunca foi lidado diretamente com isso até agora.
– Velcant, é? Presumo que isso se trate de precisarem que eu vá investigar diretamente.
A área de Velcant era uma terra que a Sétima Unidade, liderada por Kaito, tinha sob sua vigilância direta.
Mesmo no mundo humano, era uma civilização notavelmente glamorosa e avançada, e também era uma região onde os nobres e comandantes estavam constantemente em uma briga por poder.
– Mas o encontro desta vez parece que ser um plano em grande escala para eles. Seria melhor se nós tomássemos todas as medidas de segurança e criássemos uma estratégia detalhada...
– Interferência é inútil. Velcant está sob minha jurisdição.
Interrompendo o anjo que tentou discordar, Kaito se levantou completamente de seu assento desta vez.
Discursos pretensiosos não tinham sentido. Tudo o que importava era apresentar os “resultados” como ele sempre fazia.
Com habilidade superior de combate e liderança carismática, Kaito guiou a unidade armada mais forte, conhecida como A Sétima Lança Sagrada dos Anjos. Na verdade, a Sétima Unidade que Kaito guiava, conhecida tanto por seu talento quanto por seu sucesso, consistia apenas dos mais fortes e orgulhosos da elite do Exército Sagrado.
– Então está decidido, arcanjo Kaito. Lhe será dada a completa responsabilidade de investigar a fé em demônios na região de Velcant. Pessoal, alguma objeção sobre isso? Contudo, não façam o impossível.
Com sorrisos gentis, os arcanjos mais velhos concluíram a discussão.
O sistema hierárquico dos anjos era rígido. Anjos de classe baixa devem obedecer aos de classe mais alta que eles. Ou melhor, o instinto de obedecer estava cravado em seus corpos. A excelência do poder divino do Paraíso era um guia absoluto para todos.
O anjo que estava raivoso por Kaito receber os créditos apertou os punhos em frustração, e o encarou enquanto falava.
– Arcanjo Kaito, permita-me dar um conselho.
Kaito, que foi rápido em deixar seu assento, parou de andar e olhou para trás na direção da voz.
– O que seria, Luka?
– Você está apenas embarcando no seu sucesso agora, esta batalha não pode ser vencida apenas com a força do poder divino. É melhor você ter cuidado para não ser enganado por humanos inferiores.
A capitã da Sexta Unidade, chamada Luka, que estava encarregada de proteger a região de Valul, vizinha de Velcant, deixou a sala com seu longo cabelo róseo ondulando atrás dela. Luka via Kaito como seu rival em todos os sentidos. Ele geralmente recebia os créditos pelas conquistas dela, então ela usava cada oportunidade que tivesse para provocá-lo. Sendo da mesma classe de arcanjo, eles provavelmente nasceram ao mesmo tempo também. Luka era uma extremista, um anjo afiliado à facção Ira. Eles tinham um pensamento coletivo de presumir que os humanos são formas de vida inferiores, feitos apenas para imitar os anjos, e os anjos “cuidavam” dos humanos no mundo abaixo. Era um pensamento que se expandiu desde a Grande Guerra, com o objetivo de reforçar a liderança no Paraíso e sua lealdade a Deus.
Kaito também era da facção Ira, e sendo assim, menosprezava os humanos, mas provavelmente não tanto quanto ela. Conforme os dias passavam, os extremistas e conservadores discutiam assim durante cada conferência importante. Neste tipo de Estado, se o exército do demônio invadisse, as coisas ficariam bem no final? Isso era com o que todos os arcanjos secretamente se preocupavam.
Sentindo uma leve irritação, Kaito deixou a sala de conferências.

+ + + + +

Voando para o leste da Torre de Conferências por cerca de trinta minutos, o Jardim Griselle surgia aos olhos.
Havia vários tipos de vegetação crescendo, e a água da grande fonte no centro fluía para todos os cantos do jardim. Dava a sensação de ser abraçado pelo calmo e animado meio da tarde. No galho de uma macieira crescendo ao lado da fonte, estava Rin. Ela estava tirando um cochilo da tarde, o qual ela adorava.
– Se você dormir em um lugar assim, você irá cair.
Ouvindo uma voz sobre ela, Rin se levantou, assustada.
– Uwah!
Sem conseguir abrir suas asas a tempo, ela parecia estar prestes a cair do galho, mas se segurou com seus braços antes que isso acontecesse.
– Você está bem?
– K-Kaito! Obrigada, você me salvou!
– Você... Seu jeito de falar continua o mesmo de sempre.
Com olhos sonolentas e um sorriso, Rin usou suas asas para se sentar de novo no galho.
– Hã? Mas o Kaito é o Kaito, não é?
– Todos os outros anjos de nível mais baixo me chamam de arcanjo Kaito... a única que não me chama assim é você.
– Hã? Mas eu fui ensinada a me referir ao meu parceiro com profunda afeição e me livrar de formalidades.
– ...
Normalmente, anjos trabalham em pares. São designados “parceiros” que são de níveis diferentes entre si. Os anjos de níveis mais altos agem como mentores para os de níveis mais baixos, enquanto estes respeitam os de níveis mais altos; isto era uma ordem que deve ser seguida. Desta forma, quando as regras da sociedade hierárquica do Paraíso são aplicadas, a base de um relacionamento de confiança inabalável entre anjos é formada... Isso é o que ensinam a todos os anjos, mas...
Essa garota animada e inocente, Rin, tinha pouco interesse nas leis do Paraíso. Sua personalidade não mudou muito desde quando ela nasceu, mas até mesmo hoje, é raro haver um anjo tão indiferente e livre assim.
Kaito repentinamente se lembrou do amigo que uma vez dividiu seu conhecimento com Rin como sua parceira – sempre um jovem animado e maleável com olhos da cor de jade, e subconscientemente sorriu.
– Então, como foi o encontro de arcanjos?
Rin pegou duas maçãs maduras e suculentas de um galho da árvore, e perguntou isso enquanto comia as duas de uma vez.
– O mesmo de sempre. Uma perda de tempo.
Kaito respondeu enquanto mordia sua própria maçã, que Rin havia dado a ele.
Sem ser muito doces, era a perfeita colheita. Após morder outro grande pedaço, Rin engoliu fazendo um som alto.
– Ei, ei, o mundo humano foi muito divertido!
Rin foi ao mundo humano por duas semanas para seu treinamento como um anjo. E com isso, ela foi promovida de anjo em treinamento para anjo júnior, e voltou após concluir o seu treinamento.
– Havia muita comida deliciosa no mundo humano! E roupas estranhas que eu nunca vi antes! E também...
– Entendo... A partir de hoje, você é um anjo júnior, não é?
– Sim! Agora eu sou um “anjo” totalmente desenvolvido!
– Um anjo totalmente desenvolvido não precisaria dizer isso.
– Ah! Kaito, você é cruel. E eu ainda te dei uma maçã.
– Por que eu... De qualquer forma, você apenas pegou esta maçã sem permissão deste galho.
– Ah. Tudo bem, certo, eu já entendi. Francamente!
Cortando as palavras de Kaito, Rin fechou o rosto e virou de costas. “Nesta situação, não deveria ser eu a me sentir ofendido?” Foi o que Kaito pensou.
– Ahem. Enfim... Digo, parabéns por sua promoção.
– !
Quando Rin apressadamente se virou, Kaito – que sempre fazia expressões fastidiosas – estava sorrindo um pouco, como se estivesse embaraçado.
– Obrigada, Kaito! A partir de hoje, eu darei toda a minha energia!
Com um sorriso de orelha a orelha, a garota que estava sorrindo como uma criança se esqueceu de seu humor anterior e começou a se preparar para o trabalho com gosto sobre o galho.
Sempre que ele estava com Rin, coisas impossíveis aconteciam. Coisas como Kaito sorrindo, algo que os outros anjos provavelmente nunca o viram fazer. Sendo tão sério, ele era calmo e concentrado sobre todos os assuntos, e não demonstrava interesse em interações com os outros anjos. Para uma pessoa tão fria, essa garota que se tornou sua parceira há cerca de mil anos atrás tinha uma grande influência.
Como seu superior, ele não tinha dúvidas sobre ela, e eles se agiam como iguais. Para Kaito, que sempre se distanciou dos outros anjos e vivia fielmente apenas pelo bem de sua missão, Rin era uma existência que lhe trazia paz e tranquilidade.
– Não fique com tanta energia a ponto de cair da árvore de novo. Eu nunca vi nenhum outro anjo cair de uma, visto que temos asas.
Assim que ele disse isso, ele levemente abriu suas asas e flutuou no ar.
Primeiro, eles iriam celebrar no chá das três a promoção de sua subordinada, que o seguia logo atrás bem abaixo enquanto murmurava reclamações.

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