terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Himitsu ~Kuro no Chikai~ [Capítulo 2, Parte 1 - A garota de preto]


Reino de Alphine, Ilha Rulen. Em um lugar não muito longe da Catedral Claude, localizada no centro da ilha, estava a mansão Cryinpt. Construída há quatrocentos anos pelo arquiteto prodígio, Tossano, essa mansão combinava a mecânica estrutural do plano e do isométrico em um equilíbrio sensível, conhecido como o estilo proeminente da “Nova Arquitetura de Tossano”. Foi cuidadosamente decorada até o último detalhe, e embora seja uma construção antiga, foi reforçada com reparos ao longo dos anos para continuar em boa condição. A mansão tinha a história de ser herdada por cada novo chefe da família da Casa de Cryinpt por muitas gerações. Em particular, o jardim, que era feito em arranjos cuidadosos e cálculos minuciosos, era uma vista e tanto, e naturalmente recebia elogios de nobres dos países vizinhos. Cada mês, os nobres e aristocratas se reuniam neste jardim para festas sociais. A Casa de Cryinpt era uma família prestigiada que está aqui desde a fundação de Alphine, e Miku era a filha da atual chefe da família.
Foi uma manhã pacífica. Voltando da igreja, Miku estava desfrutando um chá da tarde no premiado jardim da mansão Cryinpt.
— Miku! Miku!
Enquanto bebia Earl Grey e lia o livro que ela havia comprado esta manhã, ela ouviu os gritos de uma garota se aproximando.
— Miku! Ah, você está aí!
— Por que você está tão agitada, Rin? Oh...! Hehe...
Miku não conseguia evitar rir um pouco quando viu a aparência de Rin.
— Miku, você é tão má! Hmph!
Rin encheu as bochechas de ar e olhou para o outro lado. Ela parecia estar com raiva por terem rido dela.
— Combina muito com você. Você parece uma princesa fofinha.
— Hmm!
Uma princesa. Como Miku havia dito, agora Rin parecia uma princesa. Em sua cabeça havia uma tiara com diamantes e pérolas, e ela vestia um vestido rosa pálido que quase parecia ser pétalas de flores costuradas uma à outra. Ela usava uma maquiagem clara e limpa, e seu belo cabelo loiro estava cacheado. Ela tinha a aparência de uma princesa adorável que acabou de sair de um conto de fadas.
— Senhorita Rin! Onde a senhorita foi? Sua maquiagem ainda não está pronta!
Uma voz podia ser ouvida chamando por Rin na mansão. Era a costureira da mansão, Lily. Ela era aquela com apenas a tarefa de vestir as pessoas. A aparência de princesa que Rin tem agora também foi algo que ela costurou. Gradualmente, a voz de Lily começou a se aproximar.
Nesse ritmo, ela seria encontrada.
Rin se agachou sob a mesa onde Miku estava para se esconder. Havia espaço para uma pessoa se esconder confortavelmente.
— Você está fazendo muito barulho, o que houve?
— Ah, senhorita Miku! A senhorita Rin passou por aqui? Nós estávamos no meio da produção e ela sumiu do nada.
— Parece divertido, Lily. Hmm, nós estávamos tomando chá há um momento, mas parece que ela voltou para a mansão.
— É mesmo?! Muito obrigada! Senhorita Riiiin!
Com olhos azuis brilhando com determinação, a costureira chamada Lily voltou para a direção mansão.
— ...Ela já foi?
Levantando a toalha de mesa, Rin lentamente checou os arredores, com uma expressão preocupada em seu rosto. Ela parecia estar bem exausta com toda essa “produção”.
— Sim, mas pode ser uma boa ideia ficar aqui por enquanto.
Rin se lembrou do olhar ridiculamente feliz no rosto de Lily mais cedo, e rindo, sua própria expressão relaxou um pouco.
— Francamente. Eu queria que ele me desse um tempo... Esse já é o segundo visual hoje.
Lily era uma costureira. Em outras palavras, o trabalho dela era vestir as pessoas que vivem nesta mansão. Com um senso natural e excepcional para estética e técnicas, ela também era conhecida como sendo a melhor do reino. Contudo, seu único defeito seja que ela se esforce demais. Particularmente quando ela encontra um “material” de alta qualidade, seu espírito de costura se anima, e ela não para até que goste do resultado. Atualmente, após se deparar com um material da maior qualidade no outro dia, ela estava completamente decidida a produzir Rin.
O tema de hoje era uma série de princesas. Após se trocar em seu segundo estilo pela manhã, Rin já estava completamente exausta. No meio da maquiagem, Lily foi procurar mais rímel, e Rin aproveitou a chance para fugir. Desde a noite que Rin se refugiou na mansão, a “produção” entusiasmada de Lily continuava, e ela logo se acostumou com a vida da mansão Cryinpt. De acordo com Lily, Rin era um “diamante”. Se polido, o magnífico brilho de sua secreta luz sedutora seria liberado... Ou foi o que ela disse.
Humanos normais não podem ver anjos, ou sentir sua presença. Geralmente, anjos escondem sua forma e voz dos humanos. Na verdade, todos os anjos podem revelar sua forma como quiserem, mas todos seguiam as leis do Paraíso que proibia contato desnecessário com humanos. Se suas asas não estivessem feridas e ela não estivesse com pouco poder sagrado, Rin também conseguiria esconder sua aparência. Mas, enquanto Rin estava ficando na mansão de Miku, teria várias inconveniências se ela não pudesse ser vista, e elas decidiram que seria melhor se ela se deixasse ser vista.
Enquanto ela estava na mansão, Rin posava como uma nobre senhorita livre que veio do país vizinho, o Reino de Folle. Enquanto estava em Alphine, ela acabou por conhecer Miku e elas logo se enturmaram, e para aprofundar sua amizade, elas estavam atualmente vivendo juntas. Essa foi a história que elas inventaram. O motivo para dizerem que ela era livre, era uma camuflagem por não ter nenhuma prática ou educação como a de outros nobres. Rin, é claro, parecia com uma humana, vestia roupas humanas e escondeu suas asas para que não descobrissem que ela é um anjo.
— Desde que eu vim aqui, grande parte das minhas feridas se curaram. Mas é um pouco difícil me vestirem como uma boneca todos os dias.
— Mesmo? Eu me divirto ao vê-la vestida em roupas diferentes.
— Eu sou um anjo, então não há muitos motivos para me vestir tanto assim.
— Ah, mas eu acho que sua roupa em branco puro é muito elegante e adorável.
— Hã! Eu... acho que sim...
Embora Rin tenha pouco interesse em sua aparência exterior, ela se sentiu feliz por ser elogiada assim por Miku. Para esconder sua vergonha, ela começou a mexer em sua franja.
— Você é tão fofinha, Rin.
— Hã?! Isso não é verdade!
— Hm? Você não gosta de ser chamada assim? Esse vestido fica muito bem em você.
— Não é que eu não goste, mas...
Assim que ela perguntou isso, Rin começou a sair da pergunta. Será que ela tocou um ponto sensível? Falando nisso...
— Rin, você fala de uma forma masculina, não é? Embora você pareça uma garota, poderia ser que... você é um garoto?
Rin, que se sentou na cadeira adjacente, de repente cuspiu o Earl Grey que estava bebendo.
— Minha nossa! Você está bem?
Quando Rin começou a tossir, Miku gentilmente esfregou suas costas. Ela pensou que era um pouco estranho um anjo cuspir o chá.
— Haha, Miku... às vezes eu não sei se você está brincando ou falando sério.
— Eu geralmente não brinco muito.
— Entendo... Bem, de qualquer forma, nós anjos não temos um gênero como os humanos têm. Bem, se tratando de aparência, nós escolhemos se queremos parecer um garoto ou garota, como os humanos são. Mas eu não pareço ser um garoto em alguma forma.
— Entendo, então você é uma garota, afinal?
— Hm, eu acho que sou. Mas o mais importante que a aparência são as qualidades da alma.
Ainda tentando pensar em como explicar tudo, Rin segurou um bolinho em cada mão. Eles foram assados pela Miku para a hora do chá. Hoje ela os fez especialmente deliciosos, e estava pensando em dar alguns para a sua mãe assim que ela chegasse. Ela estava bem confiante desta vez. Então, certamente, sua mãe também ficaria feliz sobre eles.
Ela sentiu uma pequena dor em seu peito.
— Então, Rin, como estão os lanches? Eu usei framboesas frescas que colhi esta manhã.
Todos os dias, Miku faz lanches para a hora do chá. Ela era bem habilidosa nisso, e geralmente é elogiada pela chefe da mansão.
— Eles estão muito bons!
Com sua boca cheia de um bolinho de framboesa, Rin sorriu descuidadamente. Quando viu esse sorriso brilhante, sua ansiedade de mais cedo desapareceu. Rin tinha uma qualidade misteriosa sobre ela. Não porque ela era um anjo, mas por causa de seu sorriso brilhante, que parecia iluminar seus arredores, como o sol, e poderia lhe preencher de alegria. As preocupações e tristeza em seu coração desapareceriam, como se sua “alma” fosse curada. Miku não tinha certeza de como explicar em palavras.
— Ah, Rin. Segurar um bolinho em cada mão é um comportamento inapropriado para uma “princesa”, além de falar com a boca cheia.
Miku disse isso para provocá-la, e em resposta, Rin gritou, “mas eu não sou uma princesa!” e, como esperado, começou a se engasgar novamente nos bolinhos que ficaram presos em sua garganta.
De alguma forma, era como se ela tivesse ganhado uma irmã mais nova. Ou talvez, até mesmo um irmão mais novo. Amanhã, ela iria preparar a torta de maçã que Rin adorava, pois anjos adoram maçãs. Quando ela fez uma torta de maçã no outro dia, os olhos de Rin brilharam tanto que ela comeu tudo em menos de quatro minutos. Tudo isso parecia nostálgico, de alguma forma, e Miku naturalmente sorriu. Ela se lembrou que, há muito tempo, sua mãe fez uma torta de maçã para seu pai, e ele também parecia muito feliz enquanto comia.
Olhando para o céu, ela viu nuvens cinzas escuras ao longe. Parecia estar prestes a chover.

+ + + + +

Do topo da ponte que parecia continuar sem fim, a multidão de pessoas abaixo poderia ser observada. Era como se todas as pessoas do mundo tivessem se reunido aqui.
Entre Folle, ao leste, e Violente, ao oeste, estava o Reino de Alphine, prosperando por várias formas de comércio. O grande mercado, conhecido como “Mercado Lustroso”, acontecia no reino uma vez por ano. Hoje, mais uma vez os diversos mercadores do leste o do oeste cruzaram a ponte Belchstein para vir ao Mercado. Este lugar, que poderia muito bem ser chamado de Festival para Mercadores, era um lugar para expor uma grande variedade de produtos de seus respectivos países, e trocar entre si. Tanto mercadores quanto nobres participavam deste evento.
As pessoas vinham promover seus produtos aos nobres renomados, ou para observar leilões de seus competidores, e até mesmo para criar relações de negócios. Durante o período de uma semana em que o Mercado Lustroso acontecia, a economia de Alphine se multiplicava em trinta vezes do que geralmente era.
Observando os humanos agitados em seu humor festivo, Rin bocejou alto. Hoje ela assumiu uma forma invisível a eles, e estava flutuando no céu. Enquanto esperava sua amiga terminar as compras no sapateiro, Rin estava observando os humanos. Era sua primeira vez visitando este mundo em um tempo, e por ser uma época de festival, estava bem cheio.
Já faz um mês desde que ela ficou ferida e se abrigou na mansão de Miku. Enquanto vivia entre os humanos em seu mundo, a asa de Rin se recuperou completamente. Neste momento, Kaito e os outros anjos estavam agitados no Paraíso. Todos estavam preocupados com Rin, que ainda não havia voltado, e mesmo que eles tenham abandonado seus deveres e começado a procurá-la, já que Rin perdeu grande parte de seu poder sagrado e estava vivendo entre os humanos, os outros anjos não conseguiram localizá-la.
Os anjos geralmente usam a energia sagrada em seus corpos para se comunicarem entre si. Sendo assim, se eles estiverem sem energia sagrada, não conseguirão fazer isso. Por isso, Rin ousou cortar seu contato com o Paraíso, então não importa o quanto a procurassem, não saberiam a sua localização exata.
Acima disso, todos os anjos têm um péssimo senso de direção, sem exceções. Os anjos reconhecem as coisas interpretando o fluxo de energia ou poder sagrado; o que significa que eles contam completamente com seus sextos sentidos. Por causa disso, sua habilidade de reconhecimento espacial é baixa, e como eles não têm interesse no terreno e ruas do mundo humano, eles não se dão o trabalho de aprender sobre elas. Esse era o motivo pelo qual era importante dois anjos trabalharem em equipe quando no mundo humano em suas missões.
Falando nisso, os hinos cantados nas igrejas era cantado com poder sagrado para empoderar os anjos que se perderem no mundo humano, para que eles possam pedir ajuda; isso começou graças a um humano que, por acaso, ouviu uma canção ser usada para este objetivo.
Assim que suas asas se curaram, Rin pôde voar de volta para o Paraíso. Ele disse ao seu superior direto e parceiro, Kaito, sobre como ela esperou que a ferida causada durante a batalha contra o demônio fosse demorar para se curar, e como havia um risco de que um demônio poderia voltar para a igreja de novo, ela se abrigou na casa de Miku, que ela conheceu por acaso por perto.
Kaito deu uma lição sem fim em sua subordinada durante uma semana por ter sumido por um mês, e após ela ter escrito diversas cartas de desculpas e reflexões sobre quebrar as regras, ele, de uma forma ou outra, entendeu a situação.
Devido à habilidade excepcional de Kaito em entender e à confiança que ele tem nela — em outras palavras, ao seu jeito angelical — o problema passou sem que ela fosse severamente punida por quebrar a lei de “não entrar em contato direto com um humano como um anjo júnior”. Sob circunstâncias normais, esta violação a rebaixaria de anjo júnior para anjo em treinamento, mas ao invés disso, sua punição foi ter que limpar o Templo Gran Dios, a maior construção no Paraíso, por três meses.
Talvez por estar bem com seu superior há muito tempo, ela nunca foi punida severamente por ter sido um pouco descuidada. Ela fortemente se arrependia de ter entrado em contato com uma humana sem permissão e demonstrou remorso por suas ações. Mas, após algum tempo passar, como esperado, sua natureza aventureira venceu, e ela voltou a ter relações com humanos. Seu superior, Kaito, tinha uma personalidade muito rígida consigo e com os outros, mas por algum motivo, ele apenas era mais pacífico com Rin. Até mesmo quando ela ia ver Miku e Lily entre suas missões, embora ele ainda estivesse em maior parte cauteloso, ele fazia vista grossa.
Hoje, mais uma vez, Rin estava abertamente quebrando a lei e fazendo contato direto com humanos, e ele fingiria não ter visto.
— Mesmo assim, ainda são muitas pessoas.
Essa ponte sempre tinha uma multidão sempre que ela vinha, mas hoje em particular, estava tão cheio que não parecia ter lugar para andar.
Rin estava de folga do trabalho hoje, e ela veio cheia de energia ao mundo humano ao pôr do sol. Seu propósito, naturalmente, era ver Miku. Desde que ela feriu sua asa na batalha contra o demônio e ficou em sua casa até que ela se curasse, ela e Miku se enturmaram muito bem. Na primeira vez que elas se encontraram, haviam tantas coisas confusas sobre os valores humanos e sua forma de viver, mas após passar um tempo com Miku, Lily e todos da mansão Cryinpt, ela conseguiu entender a ideia do que um “humano” é. Em todo esse tempo, ela nunca havia encontrado muitos humanos, então viver com Miku e os outros lhe surpreendia todos os dias e ela tinha novas experiências divertidas.
Havia uma diferença enorme entre o que eles ensinavam no Paraíso sobre humanos e o que os humanos realmente são, então ela pensou que talvez um treino envolvendo contato com humanos de verdade deveria ser incluído no programa de promoção.
Para os anjos, humanos eram seres inferiores. Uma existência fraca. Por isso os anjos tinham a missão de cuidar de seu frágil período de vida. Até agora, ela sempre acreditou nisso, e nunca duvidou deste conceito. Mas agora, ela não poderia evitar sentir que havia algo de errado nisso. Certamente, foi por isso que ela conheceu Miku. Embora ela devesse ver sua existência frágil e inferior, cada palavra que Miku dizia fazia seu coração tremer. Quando você os conhece, os humanos são interessantes, pensou Rin. Ela queria saber mais e mais sobre os humanos.
Depois de terminar as compras no sapateiro, Miku olhou para cima para ver onde Rin estava no céu, e correu até ela. Hoje, Rin estava acompanhando Miku em suas compras.
— Desculpe a demora.
— Você terminou de comprar tudo?
Rin se abaixou até a linha de visão de Miku enquanto ela vinha correndo e revelou sua forma, escondendo suas asas. Desse jeito, ela ficaria invisível quando ela não estivesse com Miku, para evitar “ficar descuidadamente entre humanos” o máximo possível.
— Sim, praticamente. O Mercado Lustroso está bem cheio esse ano, e é divertido.
Miku trouxe Rin com ela, querendo compartilhar a experiência deste festival, que acontecia apenas uma vez por ano. Era especialmente animador ver vários itens trazidos ao mercado na enorme ponte Belchstein, onde a maioria eram itens raros que você normalmente não conseguiria encontrar. O destaque de hoje era um item tradicional e artesanal que um mercador de um país estrangeiro do extremo oriente trouxe, um tecido com um design original, chamado de kimono. Miku escolheu diversos diferentes para comprar como lembranças para Lily. De roupas à itens aleatórios, talvez ela tenha comprado demais, já que seus braços estavam repletos de bolsas.
Em meio segundo, Rin pegou todas as bolsas dela.
— Bem, vamos andando. — Ela disse e começou a andar, com Miku a um passo atrás dela.
— Hm, Rin! Está tudo bem, eu posso carregá-las.
— Hã?
— As bolsas. Você não precisa carregar todas elas. Eu posso carregar algumas também.
— Ah, isto? Não é muita coisa, então está tudo bem. Elas não estão muito pesadas.
Parecendo não se importar, Rin balançou seus braços com facilidade, embora estivesse carregando diversas bolsas.
— Mesmo?! Mas eu achei que estavam um pouco pesadas...
Até mesmo Miku achava que havia comprado demais e tentou pegar algumas bolsas de Rin, que continuou andando na frente, mas ela não permitia.
— Está tudo bem, de verdade. Mais importante, vamos nos apressar para voltar. Eu quero comer a sua torta caseira de maçã.
Rin continuou caminhando levemente enquanto assobiava. Ao contrário de sua aparência, ela era bem forte. No outro dia, quando ela estava ajudando Miku a remodelar seu quarto, Rin moveu todos os móveis sozinha, e muito rápido.
Do ponto de vista de um anjo, poderia se dizer que faltava força nos humanos, mas quando Rin ajudava em trabalhos físicos assim, Miku sempre elogiava sua força física em uma forma exagerada. O olhar que Miku deu, que era tanto gracioso quanto com uma pontada de inveja, a animou um pouco, e também era reconfortante.
Ao caminhar um pouco, a praça da ponte apareceu em sua visão. Geralmente, era um lugar relaxante usado para descansar, com uma fonte no centro e bancos, mas durante o festival, era repleto de tendas e multidões. Decidindo parar para descansar um pouco, elas pararam de andar e, em um canto da praça, havia um lugar que se destacava por parecer completamente lotado. Ao redor deste lugar havia duas, três vezes a quantidade de pessoas que havia em qualquer outro lugar.
— O que está acontecendo?
— Quem sabe? Devemos ir olhar?
Passando pelo fluxo contínuo de pessoas para se aproximar, o que elas viram foi uma tenda de tiro ao alvo à distância. À primeira vista, parecia que era uma tenda de tiro ao alvo normal, mas ao observar de perto, todos os prêmios eram decorações em designs raros maravilhosas e de tirar o fôlego. Em uma partida, havia a quantidade normal de dez alvos, mas os clientes estavam cativados pelo esplendor dos prêmios alinhados, e estavam jogando todos ao mesmo tempo. Mas nem mesmo uma pessoa conseguiu atingir ao menos um dos alvos.
Não era uma surpresa, já que as regras do jogo eram um pouco difíceis. O desafiador recebia dez munições, uma para cada alvo. Nesta distância enorme, havia uma distância e tanto até os alvos, e além disso, os alvos eram pequenos. Seria excepcionalmente difícil, até mesmo para um perito em armas. Sem falar que era bem caro, mesmo para apenas uma partida, então não era algo que alguém tentaria diversas vezes. Em suma, era o tipo de truque de “fique rico rápido”.
Enquanto várias pessoas aceitavam o desafio, ela olhou para a linha de prêmios. Embora ainda houvesse muita coisa que ainda não sabia sobre a cultura humana, eles certamente chamavam a atenção. Balançando a cabeça enquanto observava, Rin notou que Miku tinha seus olhos fixados em um ponto específico há algum tempo. Rin seguiu seu olhar, e viu um anel com uma flor decorando. As belas pétalas brancas pareciam estar prestes a florescer, como se fossem reais.
— Miku, você quer aquilo?
Sem conseguir tirar os olhos do anel, Miku parecia um pouco desfocada quando respondeu.
— Hã? Ah, sim... É muito lindo...
Os gestos e comportamento de Miku e eram bem maduros, mas em termos de idade, ela ainda era uma adolescente, e em termos de tendências e moda, ela adorava coisas fofas. Olhando ao redor uma vez, havia outras mulheres que também estavam olhando para o anel, assim como Miku estava.
— Hm...
Sem demonstrar muito interesse no anel, Rin pegou alguns papéis humanos em seu bolso. Durante sua estadia com Miku, ela estudou um pouco sobre o sistema monetário do mundo humano, mas ainda não entendia muito bem. Por algum motivo, esses papéis parecem ter mais valor que moedas de ouro e prata.
— Ei, quantas vezes eu posso jogar com isso?
Rin perguntou, segurando um papel com vários zeros escrito nele para o dono da tenda ver.
— Ei, a mocinha quer tentar?
— Sim. É o bastante?
— Hmm! Sim, por uma rodada.
Dizendo isso, o dono da tenda pegou o dinheiro e deu a arma a ela para atirar nos alvos.
— Aqui está. É meio pesada, então cuidado. É um brinquedo, mas se você atingir alguém por acaso, vai machucar. Você tem um tiro para treinar e dez de verdade. Geralmente, são dez tiros, mas como você é fofa, eu vou te dar um extra.
— Tudo bem, eu quero dez como todos.
— Mas com esses braços delicados...
Bang!
Silenciando a voz do dono da tenda, o som da arma de brinquedo soou e ecoou pela praça. A munição que Rin disparou atingiu o centro do alvo. Com o acerto repentino, todas as pessoas reunidas começaram a se agitar.
Bang! Bang! Bang!
Dois disparos, três, quarto. Sem tremer, todos os brinquedos que foram atingidos foram empurrados ao centro exato dos alvos.
— Dez.
Ela atingiu o último alvo. Alguns segundos antes, nenhum deles tinha nem mesmo um arranhão, mas agora todos os dez alvos foram atingidos bem no centro pelas balas, e foram perfurados profundamente. Todos os expectadores ao redor estavam tão surpresos por esse ato milagroso que esqueceram de piscar. Estavam boquiabertos, paralisados sem dizer nem mesmo uma única palavra.
— Hm, eu terminei.
Virando-se como se não fosse nada demais, o dono da tenda estava paralisado com o mesmo sorriso que tinha antes.
— Eeeei!
Talvez por estar incrivelmente chocado, ele não reagiu nem mesmo quando Rin agitou seus braços diante de seu rosto.
— Rin! Isso foi incrível!!
Quebrando o silêncio da audiência, Miku correu até Rin e jogou seus braços ao redor dela. Petrificada com o abraço repentino, as bochechas de Rin coraram. Ela estava em tanto pânico que se esqueceu de como estava concentrada enquanto atirava mais cedo.
— Hm, Miku!
— Incrível! Você é incrível, Rin!!
Enquanto Miku corava e olhava para Rin com um olhar respeitoso e brilhante, Rin tentou controlar seu coração acelerado, e olhou de soslaio para os prêmios. De acordo com as regras, já que ela atingiu todos os dez alvos, ela poderia escolher o prêmio que quisesse.
— Posso ficar com aquele?
Ela perguntou ao dono da tenda, apontando para o lindo anel com a flor que todas as mulheres, incluindo Miku, estavam encarando com um brilho no olhar. Ao redor da tenda, já havia gritos de comemorações para Rin.
— Sim, claro... Isso foi um show e tanto, mocinha.
O dono da tenda finalmente retornou aos seus sentidos, e embora ainda estivesse atordoado, ele pegou o anel que era o mais notável de todos os prêmios. Ele estava surpreso por ver a primeira vencedora do Mercado Lustroso, e parecia estar reavaliando a simplicidade das regras. Depois de pegar o prêmio do homem e ser levada pela comemoração dos expectadores, as duas caminharam até a entrada da ilha principal. No caminho, ela foi escoltada por um guarda real que estava observando o desafio de tiro ao alvo, mas Rin educadamente recusou.

+ + + + +

            — Ah... realmente havia muitas pessoas...
            Passando pelos portais, elas chegaram à área urbana de Alphine. A mansão Cryinpt ficava próxima ao centro da ilha, no topo de uma pequena colina. Leva cerca de uma hora para voltar daqui. Elas decidiram descansar um pouco nos bancos do jardim de uma pequena igreja por perto. Assim que se sentaram, Rin gentilmente pegou a mão de Miku.
            — Aqui está.
            Rin pôs na palma de sua mão o anel que ela ganhou mais cedo.
            — Hã? Você vai dá-lo a mim?
            Abrindo com surpresa os olhos, Miku olhou para o anel em sua mão.
            — Hã?! Você não queria esse anel? Será que eu peguei o errado?!
            — Não, não é isso. É muito fofo e eu achei maravilhoso, mas... já que você ganhou, você é quem deveria ficar com ele, Rin.
            Miku sorriu, pegou a mão de Rin, e pôs o anel em seu dedo anelar direito. Parecia ficar um pouco grande.
            — Eu não posso! Eu ganhei para que você ficasse com ele.
            Rin tirou o anel, e assim como Miku fez momentos antes, ela pegou sua mão e pôs o anel em seu dedo anelar direito. O anel encaixou perfeitamente no dedo fino e flexível de Miku, como se ele sempre estivesse lá.
— Uau... Combina muito com você, como eu pensei!
Olhando para Miku com o anel, Rin sorriu e pôs ambas as mãos atrás de sua cabeça. Comparado à expressão galante que ela tinha enquanto atirava nos alvos mais cedo, o impenetrável sorriso amigável que ela tinha agora fazia com que ela parecesse outra pessoa. O anjo que estava sorrindo triunfantemente como se tivesse acabado de fazer uma brincadeira, realmente não estava interessado no anel. Talvez ela devesse apenas aceitar esse favor.
— Obrigada, Rin.
Miku sorriu timidamente, se sentindo um pouco feliz, como se tivessem acabado de comprar algo para ela só porque ela egoistamente quis. Era como se ela fosse uma criança mimada. Há muito tempo, quando ela ainda era uma garotinha, sua mãe lhe comprou um brinquedo que ela queria, quase que da mesma forma. Quando ela pensa sobre isso, ela nunca aceitava a gentileza dos outros antes. Ela não era boa em ser mimada assim.
— Obrigada. Eu vou... cuidar bem dele...
Ela gentilmente acariciou a bela flor que desabrochava em seu dedo anelar. Rin estava sorrido ao seu lado, coçando sua bochecha em um leve embaraço. Ela decidiu tentar depender um pouco mais de Rin.
— ...
Miku descansou sua cabeça no ombro delicado do anjo e se inclinou contra ela. Talvez por ter andado desde cedo, ou por causa da pacífica luz do sol, suas pálpebras ficaram naturalmente pesadas e ela não tinha mais energia suficiente para mantê-las abertas. O calor que ela sentiu ao seu lado era puro de uma presença sagrada.
Era tão caloroso —
            O sorriso gentil que parecia tanto tímido quanto um pouco embaraçado, cochilou com o clima confortável, e parecia com o sorriso de um anjo.

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