Uma brisa gentilmente
acariciava suas bochechas.
A cidade, ignorada pelas
ruínas desertas do templo, estava tingida pela belo laranja do pôr do sol.
Do telhado do Templo
Tandolman, havia uma vista clara da cidade do reino humano. Embora seja
ignorantemente considerado o lugar mais próximo de Deus, atualmente não estava
sendo como um lugar de profecias, e apenas servia como um lugar para os anjos
descansarem suas asas. Eram poucos os que se aproximavam.
O anjo que tomou a aparência
de uma garota, com olhos azuis tristonhos, quietamente fechou seus punhos.
– Você vai, não importa o
que aconteça...?
Nem mesmo uma sombra do usual
sorriso brilhante e animado da garota se mostrava em sua expressão.
– ...Rin. O que você acha
deste mundo?
Sem responder à pergunta
da garota, o anjo que parecia um jovem homem gentilmente riu. Olhos azuis
cristalinos que pareciam te absorver. Por algum motivo, sempre que ela via este
sorriso, caía em um humor incuravelmente deprimido.
– O que eu acho? ...Nós
somos anjos. Eu não entendo muito bem os humanos, mas... os anjos têm seu
próprio mundo, e os humanos têm o deles. Cada um de nós apenas vive cumprindo
as missões que nos são dadas em nossos respectivos mundos, não é mesmo?
Este mundo – era a obra
prima feita por Deus, expressando Seu amor e compaixão. Ela não tinha
reclamações sobre este mundo. Ou melhor, ela não tinha dúvidas sobre Deus ou o
mundo criado por Ele.
– Entendo... Eu acho que
Deus é cruel.
Ela sentiu um choque com
as palavras do garoto, como se elas estivessem presas à sua mente. Até agora,
ela nunca o ouviu desmerecer Deus ou os outros anjos. Não importa a situação,
ele nunca demonstrava emoções negativas. Sempre, com um sorriso gentil e
caloroso, ele era mais compassivo que qualquer um. Com seus colegas, com Deus,
e até mesmo com este mundo. O que poderia ter mudado isto?
Com um tom gentil, ele
continuou.
– Deus criou a nós,
anjos, antes dos humanos. Nós somos orgulhosos apenas por sermos amados por Deus.
Mas Ele não nos agraciou com aquilo.
Ele não nos permitiu ter isso. A “coisa mais importante” que os seres vivos deste
mundo têm.
A garota se sentiu
confusa. Ela não sabia do que o garoto estava falando. Não, foi dito de uma forma
melhor que ela poderia compreender.
– “A coisa mais importante”...?
É a vida, não é...?
– A vida é uma
necessidade. Mas você já pensou “por qual motivo” existe a vida?
– Os anjos vivem para
servir como a conexão entre o mundo humano e Deus e o Paraíso. O bem-estar e a
ordem deste mundo é a nossa única missão. É por isso que dedicamos as nossas
vidas. Não foi sempre assim para você?! Para mim, você é muito importante... você
é meu precioso companheiro! Eu não quero perde-lo! Então, por quê...?!
– Rin... obrigado.
Repentinamente, sua visão
foi encoberta por um branco puro. Sentindo o calor, ela percebeu que estava
sendo abraçada. O calor de seus braços era o mesmo de antes. Mas, apenas as
asas, em toda a sua aparência de anjo branco, estavam em um preto intenso,
dando um contraste chocante.
– Meu coração, no passado
e agora, não mudou nem mesmo um pouco. Este corpo, esta vida... por qual motivo
eles existem? Você não entende? Quando eu estou feliz, eu posso dizer obrigado usando estes dois braços, bem
assim.
– Mas, essas asas...? Por
quê? Como...?!
– Por que eu estou vivo?
Um dia, chegará o momento em que você entenderá o que estou dizendo,
certamente.
– Eu não entendo, não
consigo entender! Se você partir...! Você é o meu irmão mais próximo... E-eu o
considerava o meu parceiro mais precioso!
Liberando os sentimentos
que ela esteve suportando, lágrimas escorriam infinitamente de suas bochechas.
Os dias passados com ele irão chegar ao fim. Ela não queria isso. Seria muito
solitário.
A mão do garoto se pôs
sobre seu punho fortemente fechado, e gentilmente o levantou. Ele deixou algo
na palma de sua mão. Era um pequeno brinco no formato de uma cruz, aquele que
ele sempre usava em sua orelha direita.
– Eu irei dar-lhe isto. É
um amuleto que foi importante para mim a minha vida toda, enquanto eu vivi como
um anjo. Sinto muito, Rin... Obrigado... por tudo.
O pôr do sol alaranjado
iluminava suas asas com a cor da escuridão. Com movimentos elegantes e as asas
levemente se agitando, ele caiu no mundo cor-de-âmbar que se abria logo abaixo.
O braço estendido para impedi-lo,
inutilmente segurou o ar.
–
Ouvindo o seu nome ser
gritado pela última vez, o garoto olhou para trás por um momento e riu.
Ofuscado pela luz ao fundo, algo brilhou e refletiu em sua bochecha, e então
escorreu.
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