sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Himitsu ~Kuro no Chikai~ [Prólogo]

Uma brisa gentilmente acariciava suas bochechas.
A cidade, ignorada pelas ruínas desertas do templo, estava tingida pela belo laranja do pôr do sol.
Do telhado do Templo Tandolman, havia uma vista clara da cidade do reino humano. Embora seja ignorantemente considerado o lugar mais próximo de Deus, atualmente não estava sendo como um lugar de profecias, e apenas servia como um lugar para os anjos descansarem suas asas. Eram poucos os que se aproximavam.
O anjo que tomou a aparência de uma garota, com olhos azuis tristonhos, quietamente fechou seus punhos.
– Você vai, não importa o que aconteça...?
Nem mesmo uma sombra do usual sorriso brilhante e animado da garota se mostrava em sua expressão.
– ...Rin. O que você acha deste mundo?
Sem responder à pergunta da garota, o anjo que parecia um jovem homem gentilmente riu. Olhos azuis cristalinos que pareciam te absorver. Por algum motivo, sempre que ela via este sorriso, caía em um humor incuravelmente deprimido.
– O que eu acho? ...Nós somos anjos. Eu não entendo muito bem os humanos, mas... os anjos têm seu próprio mundo, e os humanos têm o deles. Cada um de nós apenas vive cumprindo as missões que nos são dadas em nossos respectivos mundos, não é mesmo?
Este mundo – era a obra prima feita por Deus, expressando Seu amor e compaixão. Ela não tinha reclamações sobre este mundo. Ou melhor, ela não tinha dúvidas sobre Deus ou o mundo criado por Ele.
– Entendo... Eu acho que Deus é cruel.
Ela sentiu um choque com as palavras do garoto, como se elas estivessem presas à sua mente. Até agora, ela nunca o ouviu desmerecer Deus ou os outros anjos. Não importa a situação, ele nunca demonstrava emoções negativas. Sempre, com um sorriso gentil e caloroso, ele era mais compassivo que qualquer um. Com seus colegas, com Deus, e até mesmo com este mundo. O que poderia ter mudado isto?
Com um tom gentil, ele continuou.
– Deus criou a nós, anjos, antes dos humanos. Nós somos orgulhosos apenas por sermos amados por Deus. Mas Ele não nos agraciou com aquilo. Ele não nos permitiu ter isso. A “coisa mais importante” que os seres vivos deste mundo têm.
A garota se sentiu confusa. Ela não sabia do que o garoto estava falando. Não, foi dito de uma forma melhor que ela poderia compreender.
– “A coisa mais importante”...? É a vida, não é...?
– A vida é uma necessidade. Mas você já pensou “por qual motivo” existe a vida?
– Os anjos vivem para servir como a conexão entre o mundo humano e Deus e o Paraíso. O bem-estar e a ordem deste mundo é a nossa única missão. É por isso que dedicamos as nossas vidas. Não foi sempre assim para você?! Para mim, você é muito importante... você é meu precioso companheiro! Eu não quero perde-lo! Então, por quê...?!
– Rin... obrigado.
Repentinamente, sua visão foi encoberta por um branco puro. Sentindo o calor, ela percebeu que estava sendo abraçada. O calor de seus braços era o mesmo de antes. Mas, apenas as asas, em toda a sua aparência de anjo branco, estavam em um preto intenso, dando um contraste chocante.
– Meu coração, no passado e agora, não mudou nem mesmo um pouco. Este corpo, esta vida... por qual motivo eles existem? Você não entende? Quando eu estou feliz, eu posso dizer obrigado usando estes dois braços, bem assim.
– Mas, essas asas...? Por quê? Como...?!
– Por que eu estou vivo? Um dia, chegará o momento em que você entenderá o que estou dizendo, certamente.
– Eu não entendo, não consigo entender! Se você partir...! Você é o meu irmão mais próximo... E-eu o considerava o meu parceiro mais precioso!
Liberando os sentimentos que ela esteve suportando, lágrimas escorriam infinitamente de suas bochechas. Os dias passados com ele irão chegar ao fim. Ela não queria isso. Seria muito solitário.
A mão do garoto se pôs sobre seu punho fortemente fechado, e gentilmente o levantou. Ele deixou algo na palma de sua mão. Era um pequeno brinco no formato de uma cruz, aquele que ele sempre usava em sua orelha direita.
– Eu irei dar-lhe isto. É um amuleto que foi importante para mim a minha vida toda, enquanto eu vivi como um anjo. Sinto muito, Rin... Obrigado... por tudo.
O pôr do sol alaranjado iluminava suas asas com a cor da escuridão. Com movimentos elegantes e as asas levemente se agitando, ele caiu no mundo cor-de-âmbar que se abria logo abaixo.
O braço estendido para impedi-lo, inutilmente segurou o ar.
Ouvindo o seu nome ser gritado pela última vez, o garoto olhou para trás por um momento e riu. Ofuscado pela luz ao fundo, algo brilhou e refletiu em sua bochecha, e então escorreu.


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