sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Himitsu ~Kuro no Chikai~ [Capítulo 1, Parte 2 - O anjo branco]


Região de Velcant, Reino de Alphine. Não era um país grande, era formado por uma série de ilhas flutuando no meio de um enorme lago. Devido aos abundantes recursos pesqueiros e clima suave, todas as pessoas tinham uma vida rica com os recursos naturais. Passando pelo centro da ilha principal, chamada Ilha Rulen, havia uma ponte gigante que conectava os grandes países aos lados leste e oeste de Alphine. A Ponte Bechstein, que servia como uma estrada para o comércio entre estes países, tinha aproximadamente quarenta quilômetros de comprimento, e duzentos metros de largura em seu ponto mais largo. Muitas parcerias comerciais eram feitas sobre a ponte.
Alphine servia como um ponto neutro entre Folle, ao leste da ponte, e Violente, ao oeste. Durante vários momentos na história, ela foi atingida durante as guerras entre o leste e o oeste. Porém, como se por um milagre, certo estadista carismático repentinamente apareceu, e devido a sua liderança, se tornou um país maravilhoso que escapou ser dominado por ambos os países maiores.
Talvez por este passado histórico, estadistas eram indicados periodicamente, e os cidadãos se tornaram fiéis a Deus. Acreditava-se que a duradoura independência contínua e boa base política de Alphine era uma benção de Deus, e ao longo das gerações, pessoas continuaram a acreditar Nele mais e mais. Como se parar confirmar isso, igrejas começaram a aparecer em todo o país, cada uma construída para mostrar a maior luxúria possível. Os primeiros viajantes que vieram para este país ficaram fascinados por sua beleza de tirar o fôlego.
O Reino de Alphine, assim como o Reino de Folle ao leste, e o Reino de Violente ao oeste, formavam a Região de Velcant, pela qual a Sétima Unidade, liderada por Kaito, era responsável no Paraíso.
 A Região de Velcant era uma região onde os humanos constantemente batalhavam uns contra os outros, e também era o local da “Queda do Paraíso”, o incidente que aconteceu durante a Grande Guerra do Paraíso.
O Paraíso que caiu sobre a Terra – no Paraíso, era assim que Alphine era chamada. Como o nome sugeria, o Reino de Alphine era cercado por um lago, que uma vez já foi o Paraíso Celestial. Durante a Grande Guerra do Paraíso, quinhentos anos antes, as forças dos demônios excederam as expectativas dos anjos, e a “Árvore da Vida”, que era dito ser o coração do Paraíso, estava a um triz de ser conquistada.
Se a Árvore da Vida caísse nas mãos dos demônios, toda a vida estaria sob o controle deles, e isso levaria ao colapso de ambos os mundos existentes. Para proteger a Árvore da Vida naquele momento, o Grande Arcanjo decidiu que as regiões onde os demônios penetraram seriam jogadas à Terra.
Isto se tornou o Reino de Alphine. Nos textos antigos escritos pelos humanos da época, era o que se dizia.
“Em um dia brilhante e pacífico, acompanhado por um rugido ensurdecedor, o céu caiu na terra. Os pássaros fugiram do céu ao chão, e a vegetação secou em um instante. Conforme o céu gradualmente se aproximava, todos da cidade foram tomados por um medo indescritível, esperando, com respiração abatida, o fim chegar. Uma vez que o céu caiu ao ponto de chegar ao topo da grande igreja da cidade, uma miríade de asas brancas e negras vieram do céu como um redemoinho, cercando os cidadãos, e engoliram tudo em uma onda de luz ofuscante. Enquanto tentavam se manter conscientes, os cidadãos perceberam que estavam repentinamente sobre uma terra bela. Embora todos tenham ficado confusos sobre o porquê de estarem todos nus, eles logo esqueceram isso ao ver as belas e exuberantes flores até onde os olhos conseguiam ver, além disso, o vasto oceano. Tudo isso era como um paraíso que eles só haviam visto na terra dos sonhos. E então, formamos nosso novo país aqui.”
Originalmente, esta região não tinha um lago, e há quinhentos anos, haviam apenas florestas profundas e algumas pequenas cidades. Mas em um dia, uma linda ilha começou a flutuar no centro de um lado.
Devido à sua pequena população e civilização subdesenvolvida, aqueles que sabiam a verdade sobre este paraíso caído eram poucos. Conforme quinhentos anos se passaram, ele se tornou apenas um conto de fadas.
Quando Alphine caiu sobre a terra, devido aos demônios que invadiram e estavam caindo junto à terra, o poder sagrado e o poder das trevas se mesclaram. Por causa deste impacto, embora a terra fosse rica, se tornou um lugar de lutas sem fim. Desde a Queda, seja entre anjos e demônios ou guerras entre humanos, este era o principal campo de batalha.
Estando entre dois grandes países em guerra, e afetado por guerras em diversas ocasiões, o fato de que ainda era um país rico e independente era realmente graças a uma benção de Deus. Originalmente este país era um Paraíso Celestial que “caiu à terra”. Ele era protegido pelos anjos contra todas as adversidades, pelos bastidores.
Sendo assim, o bem-estar desta terra era apenas concedido a anjos do Paraíso poderosos e capazes.
Aqui, as guerras faccionais entre aqueles com poder continuava a acontecer, e relações complexas de poder com o leste e oeste afetados foram estabelecidas. O trabalho da unidade de Kaito era investigar a vida dos humanos e, se necessário, intervir.

+ + + + +

Em breve seria o início do verão. Evitando os ofuscantes raios da luz do sol, Rin, que estava descansando suas asas na sombra de uma árvore, respirou levemente enquanto ouvia o som dos sinos de uma igreja distante. Após ser promovida de “anjo em treinamento” para um “anjo júnior”, Rin veio investigar o rumor sobre a “fé em demônios” que infiltrava as igrejas de Alphine. A fé em demônios não era algo tão incomum; demônios sempre tentaram os frágeis corações humanos, usando a técnica de lavagem cerebral conhecida como “Honestidade” ao poder máximo para os demônios. Geralmente, a missão seria coletar informação, encontrar um possível esconderijo, e então batalhar contra vários demônios. Contudo, dessa vez parecia que seria um pouco diferente do comum.
Geralmente, a Honestidade dos demônios atingia humanos com corações simples e frágeis, amplificando suas emoções e corrompendo-os, fazendo com que os demônios ganhem “poder das trevas”. Mas, por algum motivo, dessa vez os demônios estavam almejando humanos devotos e com corações fortes. Humanos com corações fortes têm convicção de suas vontades, ou para ser exato, grande energia vital, e eram mais difíceis de corromper. Por que eles propositalmente escolheriam “humanos devotos e com corações fortes” quando são tão difíceis de controlar? Isto era algo que precisava ser investigado, o que levava a esta tarefa de vigilância simples que foi confiada à Rin.
— Ah~, estou tão entediada.
O capitão da Sétima Unidade, Kaito, foi auxiliar em uma batalha que foi começada contra os demônios, deixando Rin investigando sozinha. Ela estava entusiasmada com sua primeira missão após ser promovida. Mas, após se passar um mês sem conseguir nem mesmo um fio de alguma pista, toda sua motivação desapareceu completamente.
Era entediante, mas não apenas por sua falta de progresso. Mesmo como um anjo aprendiz, ela sempre teve paixão por seus deveres como um anjo, e sempre foi esforçada. Ela teve inúmeras experiências passadas com missões de reconhecimento também, e como agora, também houve vezes em que ela não conseguiu nenhum resultado.
— Por que é tão entediante dessa vez? Embora eu sempre dê tudo de mim, não importa no que... Kaito, e até mesmo a pessoa antes dele, me elogiariam por ser tão diligente... Ah!
Enquanto ela pensava nisso, Rin finalmente percebeu o motivo de sua falta de motivação.
— Agora eu entendo. É porque eu estou sozinha dessa vez...
Em todas as missões até agora, ela sempre teve um parceiro com ela. Anjos geralmente trabalhavam em pares, e era raro um deles receber uma missão sozinho. Até agora, o motivo do trabalho ser agradável era provavelmente por ela ter um parceiro com ela. Rin se sentia solitária agora, e quando ela está só, era difícil entender as coisas agradáveis e as coisas difíceis.
— Me pergunto quando o Kaito vai voltar! É tão chato estar sozinha.
Assim que ela decidiu dormir para acabar com o tédio até os humanos começarem a se mover para a hora da oração, ela repentinamente ouviu gritos vindos do interior da igreja mais próxima.
— ...! Um demônio atacou?!
Levantando-se apressadamente, ela voou até o vitral da igreja que ela estava observando. Assim que ela olhou para o estado da situação do lado de dentro, ela viu que humanos estavam matando uns aos outros com armas.
— Hã?1 O-o que é isso?! Isso é o trabalho de um demônio...? Mas eu não sinto nenhum sinal das trevas neles...
Parece que os humanos estavam lutando uns contra os outros na intenção de matá-los. Humanos que foram hipnotizados por demônios tinham olhos vazios, perda da razão e movimentos desorientados. Mas os humanos que estavam se matando aqui e agora estavam claramente diferentes disso. Se isso era a influência de demônios, então ela não tem jurisdição para interferir. Um anjo júnior não tinha permissão para interferir diretamente nas mortes causadas por humanos. A lei era absoluta — punição severa aguardava aqueles que a quebrasse.
Frustrada por não ter nada que ela pudesse fazer para parar a chacina acontecendo diante de seus olhos, Rin apertou os punhos e saiu quietamente deste lugar
Bang!
Um disparo. Uma dor aguda surgiu em sua asa esquerda, e sangue fresco começou a escorrer.
Apertando a asa que foi atingida, ela olhou para trás e viu um jovem com cabelos longos e ruivos, agitando sua asa grande e negra e segurando uma arma preta.
Um demônio —
Ela rapidamente pegou sua própria arma branca e puxou o gatilho. Sobre os humanos que lutavam entre si, Rin e o demônio tinham um duelo violento no ar.
Ele era forte. O demônio estava desviando das balas de Rin nos momentos certos, e como se estivesse dançando no ar, deixava poucas aberturas com seus movimentos leves e fluidos.
O oponente também estava disparando, mas provavelmente era uma distração. Se ele conseguia deixar aberturas tão pequenas, poderia se dizer que ele tinha confiança em vencer até mesmo uma luta de mãos vazias.
Se isso se tornasse um combate próximo, a vantagem estaria contra ela.
Com um ataque do demônio, o vitral se quebrou com um som alto. Rin rapidamente voou do telhado e puxou o gatilho. As balas que eles trocavam atingiam as paredes e teto da igreja, causando que partes dele caíssem.
— Cuidado!
Sob o teto desmoronando estavam humanos frenéticos em combate. Usando toda a força que lhe restava, em uma decisão de último segundo ela mirou uma bala nas ruínas que caíam.
            Por um triz, ela atingiu o alvo e o quebrou em pequenos pedaços. Mas os humanos continuaram o confronto sem nem mesmo perceberem. Nesse ritmo, ela não conseguiria evidências o suficiente para a investigação, e até mesmo os humanos hipnotizados seriam perdidos.
            — Ugh!
            A luta continuava mais uma vez. Desde que foi distraída pelos humanos abaixo, se tornou ainda mais difícil acertar um disparo. O demônio não perdia nem mesmo um minuto em seus movimentos. Para ser mais preciso, ele estava especificamente almejando as asas de Rin. A fraqueza de um anjo — cada vez que suas asas, que continham poder sagrado, eram tocadas pelo poder das trevas de um demônio, elas se deteriorariam.
            Enquanto protegia sua asa esquerda danificada, ela desesperadamente tentava atingir o ponto vital do demônio.
Sim, é isso!
Com toda a sua força neste ataque, ela atingiu o coração do demônio com precisão espetacular — pelo menos foi a sua intenção.
— Você é muito boa. Mas, é uma pena.
No momento seguinte, ambas as mãos e asas de Rin foram restringidas atrás dela; ela foi pega pelo demônio.
— ...! Mas eu tenho certeza que te atingi! Como?!
Agitando seus braços e asas restringidas, ela desesperadamente lutou.
— O que você atingiu foi uma ilusão que eu criei. Você não notou?
— !
Como se estivesse tirando sarro dela, o demônio riu audaciosamente, e em uma voz terrivelmente charmosa, sussurrou perigosamente.
— Eu não me importo em matá-la aqui e agora.... Mas há uma coisa que eu quero perguntar. Se você se comportar e me responder, eu a deixo escapar. Aquela árvore tão preciosa que todos vocês estão protegendo... onde ela está? Ela foi movida desde a guerra há quinhentos anos atrás, não é?
— Eu não vou entregá-la a um demônio como você!
— Oh~ Você está de mal humor. Eu gosto de garotas assim.
Sorrindo animadamente, o demônio a apertou com ainda mais força.
— Ah...
Ele é forte... O nível deste demônio era claramente diferente daqueles que ela já encontrou.
Ela não conseguiria vencer...
— Se você não me disser logo, sua preciosa asa será partida, sabia?
— Eu nunca vou lhe dizer!
— Hm. Bem, então...
— Ahhh!
O demônio impiedosamente apunhalou a ferida em sua asa esquerda. Conforme o poder das trevas entrava diretamente em seu corpo, Rin gritava pela agonia da dor que a avassalava — a mais intensa que ela já havia sentido.
— Você é bem teimosa! Eu não planejava lhe matar, mas acho que não posso evitar... Hm? Oh, o que é isso?
Assim que ela sentiu sua consciência se esvaindo devido ao poder maligno fluindo nela, o demônio repentinamente a libertou. Perdendo esse apoio, ela começou a cair, mas ele levemente a pegou em seus braços.
— Po... por quê?!
— Quem diria... Bem, há diversos caprichosos entre os demônios.
O demônio estava encarando o rosto de Rin com uma expressão pensativa. Observando de seus belos cabelos loiros ao brinco em sua orelha direita, ele encarou como se estivesse confirmando algo — E então, com um gracioso bater de asas, deitou Rin sob uma árvore em um jardim.
— Se for aqui, os humanos controlados pela Honestidade não conseguiram achá-la, então você vai conseguir descansar um pouco... Bem, embora eu diga isso, eles não devem nem mesmo ser capazes de vê-la.
O demônio contra quem ela estava lutando repentinamente parou de tentar matá-la, e como se estivesse preocupado com suas feridas, ainda a levou para um lugar seguro. Completamente surpresa, Rin não conseguiu dizer nada, e apenas ouviu.
— Você parece bem surpresa. Não é como se você não tivesse motivos, eu acho. Afinal, vocês anjos são quase idiotamente cegos com sua fé.
— Cale... se! Por que... você está me ajudando? Eu não sou sua inimiga?!
— Sim, nós somos inimigos. Mas eu não estou mais com vontade de lutar contra você. Parece que eu posso me lembrar de alguma coisa estúpida do passado. Até mais.
— Ah! Espere! Isso dói...
Dizendo isso, o demônio abriu suas asas negras e grandes, e voou.
— Por que?
De alguma forma ressoando com a cena daquele dia, seu peito começou a doer. Enquanto encarava a direção em que o demônio partiu, ela tentou entender suas ações misteriosas, mas não conseguia. Por quê? Ela não conseguia entender as palavras que ele disse. E havia algum tipo de névoa em seu coração... como se a alertasse que era perigoso pensar sobre isso.
Sim, nós somos inimigos. Mas eu não estou mais com vontade de lutar contra você
Eles eram inimigos, mas ele não queria lutar —
Para entender essas palavras corretamente — palavras sem outros sentidos — ela estava com medo de pensar o que ele estava sentindo.
Sem conseguir terminar seus pensamentos, Rin perdeu a consciência.

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