Quanto tempo se passou?
O dia já estava completamente escuro, e a cidade de
Alphine estava tingida nas lindas cores do pôr do sol. Por um momento, ela
simplesmente se sentou, fascinada pela beleza ao seu redor, mas logo forçou-se
a se levantar.
Protegendo
sua asa esquerda que foi ferida na luta contra o demônio, Rin vagou sob o
crepúsculo na cidade. Ferir sua asa foi um grave erro. Embora ela consiga suportar
a dor de alguma forma, ela não conseguia voar nem mesmo sem metade da sua dor. Sem
falar que grande parte de seu poder sagrado foi usado.
Já
que o Paraíso ficava em um plano diferente do mundo humano, ele não podia ser
alcançado sem o poder sagrado. Mesmo que se voasse cegamente, sem o poder
sagrado, você continuaria voado através do céu infinito. De qualquer forma, até
que ambas as suas asas e poder sagrado estejam restaurados, ela teria que
continuar neste mundo.
Perplexa,
ela perambulou pela cidade sozinha. Os humanos não podem ver os anjos, então
ninguém conseguiria notar sua forma ferida. Balançando instavelmente, ela se
misturou à multidão de humanos e passou pelo meio da atividade. Talvez por eles
estarem fazendo os preparos para o jantar, um aroma agradável pairava no ar.
Chegando à colina no fim da rua principal, ela viu a maior catedral do país.
—
Lá deve haver poder sagrado o suficiente, devo ficar lá por enquanto.
Esta
era a cidade que uma vez havia caído do céu.
No
centro da cidade estava a notavelmente maravilhosa Catedral Claude. Para os
devotos da cidade, a catedral era conservada como o lugar mais próximo do
Paraíso. Além disso, a fé das pessoas que visitavam essa catedral dava a melhor
qualidade de energia sagrada. Por este motivo, era comumente usada como um
lugar de descanso.
Ela
lentamente subiu a escadaria, dando a volta na colina.
Para
os anjos que geralmente voavam e raramente caminhavam, esta escadaria era um
desafio e tanto. No Paraíso, após se tornar um anjo totalmente desenvolvido,
haviam vários teste e treinamentos obrigatórios, mas o mais importante para
quando estiver no mundo humano era usar suas pernas no “treinamento bípede”.
Particularmente
para os anjos encarregados da Região de Alphine, e que deveriam ficar no mundo
humano por um longo período de tempo, o treinamento de subir e descer a
escadaria da Catedral Claude era obrigatório. Quando Rin estava fazendo seu
treinamento para ser promovida a um anjo júnior, ela repetiu o treinamento de
subir e descer esta escadaria com Gumi.
Foi
a primeira vez em que ela pensou que os humanos eram incríveis.
Desde
a Grande Guerra, houve um longo período onde existiu uma escola de pensamento
conhecida como Neo Anjos, que fortemente acreditavam apenas no treinamento do
poder de suas asas. A maioria dos anjos se uniu a esta facção. Andar sobre duas
pernas era visto como um comportamento inferior, selvagem e incivilizado, e foi
banido. Mas, os tempos mudaram. Nos anos recentes, foi provado que treinar todo
o corpo se tornava uma vantagem no combate contra demônios, e andar e correr se
tornaram fatores na avaliação de um anjo forte. Havia até mesmo uma sugestão de
que “andar” fosse incluído como um dos eventos competitivos oficiais no “Santo
Festival de Esportes”, que acontecia a cada quatro anos.
Contudo,
independentemente de quão hábeis os anjos eram em andar recentemente, subir
escadas enquanto feridos exigia muito do corpo. Assim que Rin chegou ao topo,
ela entrou em colapso, seu corpo caindo para a frente.
— Haa... haa... minhas asas...
doem...
Deitada de lado, ela
olhou para o cenário. Uma pequena tempestade estava soprando. Cerca de duas a
três partes de sua asa haviam desparecido. A cidade que estava tingida de
vermelho agora mesmo, já havia mudado de cor, e o sol parecia estar prestes a
se pôr.
— Que linda.
Alguém falou.
Olhando daqui agora, a
cidade realmente parecia linda.
Rin também gostou deste
momento triste da espera enquanto a última luz que iluminava o mundo
tremulamente desapareceu.
— Mas é ainda mais linda
de ser vista do Paraíso. Parece que tinta escarlate foi derrubada de cima.
Ela murmurou isso, como
se estivesse respondendo à voz.
— Entendo... Eu gostaria
de ver isso.
Levada pelo vento, a voz
graciosa e melodiosa respondeu novamente.
— ...Hã?!
Com um momento de atraso,
ela se virou para a direção da voz.
Sua respiração foi
cortada.
Lá estava uma garota
vestida em roupas pretas.
Cabelos lindos e olhos da
cor de folhagem. Sem palavras, ela foi cativada por seus olhos claros que pareciam
sugá-la a eles.
Ela
é linda, Pensou Rin.
— Você... está ferida?
A garota de preto
perguntou isso com uma expressão preocupada.
— Ah... h-hm... e-eu...?
Por quê?!
Por um momento, ela
estava embaraçada e impossibilitada de reagir, e apenas perguntou de volta.
Este é o mundo humano. Já
que ela é um anjo, esta garota não deveria conseguir ouvir sua voz. Ela não
tinha asas, e parecia ser humana, não importa como Rin a olhasse. Talvez isso
fosse apenas um sonho.
— Sua asa está ferida,
não é? Parece doloroso.
Dizendo isso, ela se
agachou diante de Rin, estreitou seus olhos largos e olhou para a sua asa
ferida com simpatia.
— A senhora anjo não pode
voltar para o Paraíso assim... Isso é muito triste.
Como um anjo, ela estava
surpresa que a garota conseguia ver sua forma, mas ela também se perguntava
como ela conseguiu perceber tão rapidamente que ela não poderia voltar. Seus
olhos estavam repletos de surpresa, e Rin continuou em silêncio, apenas
continuando a encarar o belo rosto da garota diante dela. Embora seu superior,
Kaito, diga que suas emoções sempre são demonstradas em seu rosto, esse era
apenas o primeiro encontro das duas... Além do mais, uma garota humana
conseguir entendê-la com tanta facilidade era chocante e embaraçoso. Embora os
anjos parecessem ser baseados em humanos, e a maioria parecesse bem jovem, já
se fazem uns cento e cinquenta anos desde que ela nasceu como um anjo.
Apesar do fato de Rin
parecer estar surpresa, a garota disse.
— Senhora anjo... se você
quiser, gostaria de vir para a minha casa?
— ... Hã?! Ah, mas...
— Já que você parece
incomodada por não poder voltar para casa... Ah, mas não estou convidando sem
motivo. Você está ferida, e... não parece que você conseguiria voar com as asas
assim.
— Hm...
A casa dela. A casa... de
uma humana. Ela se perguntava quantos humanos viviam lá. Para dizer a verdade,
ela sempre esteve curiosa pelos humanos. Mas, além do necessário, as leis do
Paraíso proibiam relações além disso com os humanos. Por exemplo, quando os
anjos mais velhos intervêm no mundo humano por algum motivo, ou quando estão
contatando algum padre ou alguém do clero com poder especial. Anjos júnior não
têm motivo para contatos com humanos. Em primeiro lugar, não há muitos humanos
que conseguem ver anjos. Por que essa garota consegue ver minha forma? Embora
ela seja jovem, ela poderia ter alguma posição especial no clero?
Rin pensou em tudo isso
de uma vez.
— É mesmo... impossível,
não é? Um anjo e uma humana interagirem.
Enquanto Rin estava em
silêncio, a garota murmurou isso com tristeza.
— Isso não é verdade!!
Ela repentinamente gritou
em um tom alto. A garota parecia surpresa. Rin estava em choque com as palavras
que disse inconscientemente e só conseguia se sentir em pânico.
— Ah... Hm... Eu me chamo
Rin. Eu sou um anjo, mas ainda não vi muito do mundo humano. Você consegue ver
anjos, não é? Isso me pegou de surpresa.
— ...Hehe.
Em um instante, a garota
riu.
— Hã?! Eu disse algo
estranho? Essa é a minha primeira vez conversando com um humano, então...
— Não, não é isso. Eu só
estava pensando que já que você não estava me respondendo, talvez a senhora
anjo não tivesse permissão de falar com humanos. Por isso quando você falou, eu
fiquei... bem feliz.
Feliz —
No momento em que ela viu
a garota sorrir como flores desabrochando, ela ouviu algo.
Era... o som de um sino?
O estridente som do sino
estava ecoando em sua cabeça, e ela quase sentiu como se fosse o início de um
novo mundo.
Era assim... que um
humano era? Ou isso...
— Eu me chamo Miku. Essa
também é a primeira vez que vejo um anjo. Quando a vi pela primeira vez, fiquei
com um pouco de medo, mas quando me aproximei, você era tão bonita... eu acabei
dizendo isso sem perceber. E foi quando você achou que eu estava falando do pôr
do sol.
Ela não conseguia tirar
os olhos de seu sorriso. A voz cristalina de Miku era como a canção de
pássaros, e ainda mais agradável que a canção de um pássaro do paraíso em que
viveu. Ela queria ficar assim, e olhar para ela para sempre. Ela queria ouvir
essa voz.
Essa humana... Não, a sua
voz.
— Hm, sobre o que você
perguntou antes... se não for um incômodo, eu poderia ficar um pouco em sua
casa?
Sob as leis do Paraíso,
ela provavelmente receberá algum tipo de punição. Não importa quão grave seja o
ferimento que a impeça de voltar, procurar refúgio na moradia de um humano era
um comportamento incomum entre os anjos.
Mesmo assim, ela queria
ficar mais um pouco com essa linda jovem.
— Mesmo?! Estou tão
feliz! É claro, você é muito bem-vinda! Vamos nos dar muito bem, Rin.
— Sim, vamos nos dar
muito bem, hmm... Miku.
Ela pegou a mão de Miku e
se levantou. No momento em que ela tocou sua mão macia, sentiu uma sensação
incontrolavelmente triste. Sua alma tremeu.
Ela estava se sentindo
sentimental por causa do pôr do sol? Embora fosse a sua primeira vez sentindo
isso, era, de alguma forma, familiar. Ela conseguia ouvir o som dos sinos
sinalizando que logo chegaria a noite.
Sem entender o
significado desta tristeza, ela desceu a escada em espiral com Miku, seguindo o
pôr do sol.
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