Era flanqueada em ambos lados por
penhascos íngremes. À direita, de frente para a entrada, havia uma superfície rochosa
aparentemente perigosa e a parede do penhasco, a quase vinte metros de altura,
continuava na direção da costa sul da ilha. Ao leste da ilha, onde as correntes
eram muito fortes, a parede do penhasco alcançava quase cinquenta metros de
altura. Diretamente em frente a ela havia uma inclinação íngreme, quase outra
parede do penhasco, com um estreito caminho de pedra criado em uma forma de ziguezague.
Arbustos verdes escuros se apegavam em sua visão aqui e ali.
O barco lentamente entrou pela
estreita entrada.
As ondas lá dentro não eram tão
intensas quanto as do mar. A cor da água também era diferente: um verde intenso
e profundo.
Ao lado esquerdo deles na entrada
havia um píer de madeira; mais além, uma casa de barcos decrépita e gasta surgiu.
— Então eu não preciso mesmo ver
como cês tão nem uma vez? — O
pescador perguntou aos seis enquanto eles pisavam no píer perigoso e rangente. —
Não pensem que telefones funcionam aqui.
— Está tudo bem, velho. — Ellery
respondeu. — Nós temos um doutor em treinamento aqui. — Adicionou, pondo uma
mão no ombro de Poe, que estava fumando um cigarro enquanto se sentava sobre
uma grande mochila.
O barbado Poe estava no quarto ano da
faculdade de medicina.
— Sim, o Ellery está certo. — Lançou Agatha.
— Não é sempre que temos a chance de visitar uma ilha deserta, e arruinaria o
clima se alguém viesse sempre checar como estamos.
— Vejo que cês tem uma jovem corajosa, também.
O pescador expôs seus dentes brancos e
fortes enquanto ria e desfazia o laço da corda que estava amarrada ao poste do
píer.
— Eu voltarei para buscar cês na terça-feira da semana que vem, às
10 da manhã, então. Tomem cuidado.
— Obrigada, nós teremos cuidado.
Principalmente com os fantasmas.
*
No topo das escadas de pedra, a vista de
repente se abriu. Um gramado alto parecia ser o jardim principal de um pequeno
edifício com paredes brancas e um telhado azul, que estava lá como se estivesse
esperando pelos alunos.
As portas duplas azuis diante deles
provavelmente eram a entrada principal. Alguns passos os levavam a elas.
— Então esta é a Casa Decagonal.
Ellery foi o primeiro a falar, mas, após
ter subido uma escadaria enorme, estava sem ar. Ele derrubou sua mala de
viagens cor de camelo no chão e ficou observando o céu.
— Agatha, o que você achou?
— Um lugar surpreendentemente agradável.
Agatha usou seu lenço em sua testa de pele
clara, que estava brilhando de suor.
— E eu... eu acho... que...
Leroux também estava sem fôlego. Seus
braços estavam cheios de bagagens, incluindo a de Agatha.
— Eu esperava... como devo dizer? Algo
mais sinistro.
— Nem sempre se pode ter o que quer. Vamos
entrar. Van deve ter chegado aqui antes de nós, mas eu não estou o vendo.
Assim que Ellery recuperou a respiração,
pegou sua mala e murmurou essas palavras, uma persiana azul tremeu
imediatamente ao lado esquerdo da entrada, que estava aberta, e um homem
observava de dentro.
— Olá, pessoal.
E foi assim que Van Dine fez sua aparição,
o sétimo membro do grupo de alunos que iriam dormir e comer nesta ilha, e neste
edifício, por uma semana. Seu nome era, óbvio, de S. S. Van Dine, o pai literário
do grande detetive Philo Vance.
— Só um segundo, eu vou sair. — Disse Van
em seu tom de voz estranho e rouco, e fechou a persiana. Após uma breve pausa,
ele veio correndo pela entrada principal.
Desculpe por não ter ido encontrá-los no
píer. Eu peguei um resfriado ontem. E também estou com uma ligeira febre, então
deitei por um momento. Mas eu ouvi o barco de vocês chegar.
Van chegou um pouco mais cedo na ilha para
preparar tudo.
— Um resfriado? Espero que não seja nada sério.
— Perguntou Leroux com um olhar preocupado, levantando seus óculos que estavam
escorregando até seu nariz por causa do suor.
— Não é nada sério... Ao menos é o que eu
espero.
Um calafrio passou pelo corpo esguio de
Van, e ele riu, desconcertado.
*
Guiado por Van, o grupo entrou na Casa
Decagonal.
Passando pelas portas duplas azuis, eles
entraram no enorme corredor de entrada — o qual eles logo perceberam que
parecia ser enorme por uma ilusão de ótica. Na verdade, não era tão espaçoso.
Mas dado o fato de que os cômodos não eram retangulares, parecia ser maior do
que realmente eram.
Na parede de frente para eles havia outro
par de portas duplas levando ainda mais longe no edifício. Olhando mais perto,
eles perceberam que a parede era mais baixa da que havia atrás deles, o que
significava que o corredor de entrada tinha o formato de um trapézio, ficando menor
conforme eles prosseguiam.
Todos, exceto por Van, estavam curiosos
pelo estranho layout do cômodo, que brincava com seu senso de perspectiva, mas
assim que passaram pelo segundo lance de portas e chegaram ao corredor
principal do edifício, a consciência começou a aparecer. Eles estavam em uma
sala decagonal, cercada pelas dez paredes de mesma largura.
Para entender a estrutura da tão comentada
Casa Decagonal, provavelmente seria melhor imaginar a planta.
A característica distinta desta casa é
que, como o nome sugere, as paredes externas formam um decágono — um decágono
equilátero. Do lado de dentro do decágono exterior, dez blocos separados ficam
um ao lado do outro, cercando o decágono interior que constitui o corredor
principal. Em outras palavras, um decágono equilátero interno, que é o corredor
principal, era cercado por dez cômodos em forma trapezoidal equilátera. O
corredor de entrada pelo qual acabaram de passar era um desses cômodos.
— E? Bizarro, não é?
Van, que estava guiando-os, virou-se para
os outros.
— Essas portas duplas ao lado oposto da
entrada levam à cozinha. À esquerda dela estão o lavabo e o banheiro. Os outros
sete cômodos são quartos de hóspedes.
— Uma construção decagonal e um corredor
também decagonal.
Conforme olhava ao redor, Ellery caminhou
até a grande mesa no centro do cômodo. Ele a tocou com seus dedos.
— Isto também é decagonal. Que surpresa. Será
que o assassino Nakamura Seiji sofria de monomania?
— Talvez. — Respondeu Leroux. — Dizem que
na mansão queimada, chamada Mansão Azul, tudo era pintado de azul, do chão ao
teto, e até mesmo cada um dos móveis.
O nome do indivíduo que se mudou para a
ilha e construiu a Mansão Azul cerca de vinte anos atrás era Nakamura Seiji. E
a Casa Decagonal, que era um anexo do edifício principal, claro, também foi
construída por Nakamura Seiji.
— Todas iguais... — Agatha disse para
ninguém em particular. — Me pergunto se vou conseguir distinguir esses cômodos
um do outro.
As portas de entrada e da cozinha eram
portas duplas opostas uma à outra, e ambas eram decoradas com vidro impresso em
uma moldura de madeira pura. Quando as portas estavam fechadas, era difícil
distingui-las. As quatro paredes em cada lado das portas duplas tinham outras
portas que levavam aos quartos de hóspedes. Essas portas de madeira pura eram
difíceis de diferenciar. Não havia móveis no corredor principal que pudessem
servir como guia, então as preocupações de Agatha eram bem naturais. “Você está
certa. Até mesmo eu já me confundi sobre os quartos várias vezes essa manhã
também.” Van deu um sorriso irônico. Poderia ter sido a febre que deixou suas
pálpebras tão inchadas.
— Que tal fazer algumas placas com nossos
nomes para pôr nas portas? Orczy, você trouxe seu caderno de desenhos?
Orczy olhou para eles ansiosamente ao
ouvir seu nome ser chamado.
Ela era uma mulher baixa. Atenta com sua
forma um pouco gorda, ela sempre vestia roupas escuras, mas isso apenas a fazia
parecer estar fora de moda. Ela era o completo oposto da brilhante Agatha e
sempre desviava seu olhar tímido. Mas ela era bem hábil em seu hobby: pinturas ao
estilo japonês.
— Sim. Eu o trouxe comigo. Devo pegá-lo
agora?
— Não, pode ser depois. Deem uma olhada em
seus quartos por enquanto. Eles são todos iguais, então não precisa brigar por
causa deles. Mas eu já estou usando este quarto. — Van apontou para uma das
portas.
— Eles me deram as chaves, então já as deixei
nas fechaduras.
— Tudo bem, entendemos. — Ellery respondeu
com energia.
— Vamos descansar um pouco, e depois
exploraremos a ilha.
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